Compreender os textos Bíblicos não é tarefa fácil, e se torna praticamente impossível se não levarmos em conta os aspectos histórico-culturais e os costumes da época em que cada leitura se passa. Há muitas mensagens escritas que se apóiam nestes aspectos, além de leis específicas, metáforas temporais, problemas de tradução e até mesmo estilos usados pelos autores de cada livro, e quais elementos (ou mesmo objetivos) queriam enfatizar em seus textos.

CONDIÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E COSTUMES DA ÉPOCA DAS PASSAGENS BÍBLICAS

LEITURAS DA SEMANA

"PRÓXIMA REUNIÃO: 24/Dezembro 8:00pm"

Antes de cada reunião semanal, colocaremos nesta página informações úteis, sobre cada leitura, para nos ajudar nesta "viagem no tempo" e, assim, com o auxílio do Espírito Santo de Deus, entendermos as mensagens com este pano de fundo histórico e, finalmente, podermos transportá-las aos nossos dias e às nossas circunstâncias de hoje.

Ref. Domingo 28/Dezembro/2025

Domingo - Festa da Sagrada Família, Ano A

1ª Leitura:  Livro do Eclesiástico (Eclo 3: 3-7, 14-17a)

O Livro de Ben Sirá (chamado, na sua versão grega, “Eclesiástico”) é um livro de caráter sapiencial que, como todos os livros sapienciais, tem por objetivo deixar aos aspirantes a “sábios” indicações práticas sobre a arte de bem viver e de ser feliz. O seu autor é um tal Jesus Ben Sirá, um “sábio” israelita que viveu na primeira metade do séc. II a.C.A época de Jesus Ben Sirá é uma época conturbada para o Povo de Deus. Os selêucidas (uma família descendente de Seleuco Nicator, general de Alexandre Magno, que herdou parte do império de Alexandre, o Grande, quando este morreu, em 323 a.C.) dominavam a Palestina e procuravam impor aos judeus, mesmo pela força, a cultura helênica. Muitos judeus, seduzidos pelo brilho da cultura grega, abandonavam os valores tradicionais e a fé dos pais e assumiam comportamentos mais alinhados com a “modernidade”. A identidade cultural e religiosa do Povo de Deus corria, assim, sérios riscos… Neste contexto, Jesus Ben Sirá, um “sábio” judeu apegado às tradições dos seus antepassados, escreve para preservar as raízes do seu Povo. No seu livro, apresenta uma síntese da religião tradicional e da “sabedoria” de Israel e procura demonstrar que é no respeito pela sua fé, pelos seus valores, pela sua identidade que os judeus podem descobrir o caminho seguro para serem um Povo livre e feliz.

2ª Leitura:  Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl 3: 12-21)

A Igreja de Colossos, destinatária desta carta, foi fundada por Epafras, um amigo de Paulo, pelos anos 56/57. Tanto quanto sabemos, Paulo nunca visitou a comunidade…

Hoje, não é claro para todos que Paulo tenha escrito esta carta (o vocabulário utilizado e o estilo do autor estão longe das cartas indiscutivelmente paulinas; também a teologia apresenta elementos novos, nunca usados nas outras cartas atribuídas a Paulo); por isso, é um pouco difícil definirmos o ambiente em que este texto apareceu…

Para os defensores da autoria paulina, contudo, a carta foi escrita quando Paulo estava prisioneiro, possivelmente em Roma (anos 61/63). Epafras teria visitado o apóstolo na prisão e deixado notícias alarmantes: os Colossenses corriam o risco de se afastar da verdade do Evangelho, por causa das doutrinas ensinadas por certos doutores de Colossos. Essas doutrinas misturavam práticas legalistas (o que parece indicar tendências judaizantes) com especulações acerca do culto dos anjos e do seu papel na salvação; exigiam um ascetismo rígido e o cumprimento de certos ritos de iniciação, destinados a comunicar aos crentes um conhecimento mais adequado dos mistérios ocultos e levá-los, através dos vários graus de iniciação, à vivência de uma vida religiosa mais autêntica.

Sem refutar essas doutrinas de modo direto, o autor da carta afirma a absoluta suficiência de Cristo e assinala o seu lugar proeminente na criação e na redenção dos homens.

O texto que nos é hoje proposto pertence à segunda parte da carta. Depois de constatar a supremacia de Cristo na criação e na redenção (primeira parte), o autor avisa os Colossenses de que a união com Cristo traz consequências a nível de vivência prática (segunda parte): implica a renúncia ao “homem velho” do egoísmo e do pecado e o “revestir-se do Homem Novo”.

Evangelho: segundo Mateus  (Mt 2: 13-15, 19-23)

O interesse fundamental das primeiras gerações cristãs não se centrou na infância de Jesus, mas sim na Sua pregação e na Sua proposta de salvação; por isso, a primeira catequese cristã conservou especialmente as recordações sobre a vida pública e a paixão, morte e ressurreição do Senhor. Só num estágio posterior houve uma certa curiosidade acerca dos primeiros anos da vida de Jesus. Recolheram-se e ordenaram-se, então, algumas informações históricas sobre a infância de Jesus. Esse material serviu de base aos evangelistas Mateus e a Lucas para, a partir dele, tecerem as suas reflexões sobre o mistério de Jesus: a sua pessoa, a sua origem, a sua missão, a razão da sua presença no meio dos homens.

No entanto, a preocupação fundamental de Mateus e de Lucas – ao redigirem o “Evangelho da Infância de Jesus – não era de âmbito histórico e factual, mas sim teológico e catequético. Um e outro recorreram, para construir as suas narrativas, a métodos que os rabis da época utilizavam para explorar e comentar o texto bíblico e que incluíam histórias fantasiosas, reflexões, interpretações, comparações, tudo isso enlaçado com tipologias (correspondência entre fatos e pessoas do Antigo Testamento e outros factos e pessoas do Novo Testamento), manifestações apocalípticas (anjos, aparições, sonhos) e outros recursos literários utilizados pelos “comunicadores” da época. O resultado desse trabalho é um texto muito belo, talvez um tanto ingênuo, artificioso e com base histórica discutível, mas que nos faz mergulhar profundamente no mistério de Jesus, o Deus que veio ao encontro dos homens e encontrou o seu “lar” numa humilde família de Nazaré.

Mateus situa nos dias do rei Herodes, o Grande, o episódio narrado no evangelho deste dia. Herodes nasceu por volta de 73 a.C. e morreu no ano 4 a.C., cerca de dois anos após o nascimento de Jesus. Tornou-se rei da Judeia no ano 40 a.C.; mas, a partir dessa data, foi recebendo das autoridades romanas jurisdição sobre outros territórios, até reinar sobre toda a Palestina. Embora se tenha distinguido pelas grandes obras que levou a cabo, Herodes foi um rei cruel e despótico, que para defender o seu trono cometeu atos de extrema violência, inclusive contra membros da sua própria família.