Compreender os textos Bíblicos não é tarefa fácil, e se torna praticamente impossível se não levarmos em conta os aspectos histórico-culturais e os costumes da época em que cada leitura se passa. Há muitas mensagens escritas que se apóiam nestes aspectos, além de leis específicas, metáforas temporais, problemas de tradução e até mesmo estilos usados pelos autores de cada livro, e quais elementos (ou mesmo objetivos) queriam enfatizar em seus textos.

CONDIÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E COSTUMES DA ÉPOCA DAS PASSAGENS BÍBLICAS

LEITURAS DA SEMANA

"PRÓXIMA REUNIÃO: 17/Julho 8:00pm"

Antes de cada reunião semanal, colocaremos nesta página informações úteis, sobre cada leitura, para nos ajudar nesta "viagem no tempo" e, assim, com o auxílio do Espírito Santo de Deus, entendermos as mensagens com este pano de fundo histórico e, finalmente, podermos transportá-las aos nossos dias e às nossas circunstâncias de hoje.

Ref. Domingo 20/Julho/2025

16º Domingo do Tempo Comum - Ano C

1ª Leitura:  Livro do Gênesis (Gn 18: 1-10a)

A primeira leitura de hoje faz parte de um bloco de textos a que se dá o nome genérico de “tradições patriarcais”. Trata-se de um conjunto de relatos singulares, originalmente independentes uns dos outros, sem grande unidade e sem caráter de documento histórico. Nesses capítulos aparecem, de forma indiferenciada, “mitos de origem” (descreviam a “tomada de posse” de um lugar pelo patriarca do clã), “lendas cultuais” (narravam como um deus tinha aparecido nesse lugar ao patriarca do clã), histórias sobre as vicissitudes diárias dos clãs nômades que circularam pela Palestina durante o segundo milênio, e ainda reflexões teológicas posteriores destinadas a apresentar aos crentes israelitas modelos de vida e de fé.

Os clãs referenciados nas “tradições patriarcais” – nomeadamente os de Abraão, de Isaac e de Jacó, grupos vagamente aparentados que mais tarde, numa fase posterior da história, aparecem ligados por laços “familiares” – viajavam de lugar em lugar à procura de pastos para os seus rebanhos. Transportavam consigo diversos sonhos e expetativas. Sonhavam encontrar uma terra fértil e com água abundante, onde pudessem instalar-se e descansar, fugindo aos perigos e às incertezas da vida nómada. Sonhavam também possuir uma família forte e numerosa que perpetuasse a “memória” da tribo e se impusesse aos inimigos. O deus ancestral que protegia a tribo e a conduzia ao longo das suas movimentações era o potencial concretizador desse ideal.

O relato que a liturgia do décimo sexto domingo comum nos propõe como primeira leitura deve situar-se neste cenário. Na sua origem está, provavelmente, uma antiga “lenda cultual” que narrava como três figuras divinas tinham aparecido a um cananeu anônimo junto do carvalho sagrado de Mambré, como esse cananeu as tinha acolhido na sua tenda e como tinha sido recompensado com um filho pelos deuses. Mambré, perto de Hebron, era o local onde, já no terceiro milênio a.C., muito antes de Abraão aí ter chegado, existia um importante santuário cananeu. Mais tarde, quando Abraão se estabeleceu nesse lugar, a antiga lenda cananaica foi-lhe aplicada e ele passou a ser o herói desse encontro com as figuras divinas. Alguns séculos mais tarde, no reinado de Salomão (séc. X a.C.), os autores javistas recuperaram essa velha lenda para, através dela, propor Abraão como um modelo de hospitalidade e de bondade.

2ª Leitura:  Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl 1: 24-28)

A cidade de Colossos estava situada no interior da região da Frígia (Ásia Menor, atual Turquia), no vale do rio Lico, a cerca de quinze quilômetros de Laodiceia. Tinha sido, nos sécs. V-IV a.C., uma cidade próspera e populosa; mas, na época de Paulo, tinha perdido uma grande parte do seu esplendor.

Não foi o apóstolo Paulo que evangelizou a cidade. Pelos dados que constam da Carta aos Colossenses, foi um tal Epafras, convertido ao cristianismo por Paulo, que levou o Evangelho a Colossos. A maior parte dos membros da comunidade cristã de Colossos provinham do paganismo; mas havia também na comunidade um bom número de cristãos de origem judaica.

Quando escreve a carta, Paulo parece estar na prisão. Poderia ser, talvez, a prisão que Paulo sofreu em Roma, entre os anos 61 e 63. Epafras está com Paulo, talvez de visita.

As notícias que Epafras transmitiu a Paulo sobre a comunidade cristã de Colossos não eram boas. A Colossos tinham chegado pregadores cristãos, talvez de tendência judaizante, que procuravam induzir os Colossenses à observância de certas práticas judaicas, nomeadamente a circuncisã, a abstinência de determinados alimentos, o cumprimento do sábado e de outras festas judaicas. Havia também, na doutrina pregada por esses “mestres” judeo-cristãos, referências ao culto dos anjos, considerados guardiões da Lei, e a outros “poderes” cósmicos que governavam os astros; e os Colossenses eram exortados a enquadrar na sua visão de fé todos esses “poderes”. Paulo achava que as doutrinas ensinadas por esses “mestres” eram gravemente desviantes, pois punham em causa o papel e o lugar único de Cristo. A essas doutrinas, Paulo contrapõe a primazia de Cristo, Senhor da história, único mediador entre Deus e os homens, cabeça da Igreja, “lugar” onde habita a plenitude da divindade.

O texto que nos é proposto como segunda leitura deste domingo inicia a parte polêmica da carta. Paulo fala aos cristãos de Colossos sobre o papel que lhe foi destinado enquanto testemunha do mistério de Cristo.

Evangelho: segundo Lucas (Lc 10: 38:42)

Jesus vai com os discípulos a caminho de Jerusalém. A cada passo detém-se a instruí-los. Na “escola de Jesus”, os discípulos vão interiorizando os valores do Reino e preparando-se para serem, após a ressurreição, os arautos da salvação que Jesus veio propor.

O episódio que a liturgia deste domingo nos propõe como Evangelho é exclusivo de Lucas: não aparece em mais nenhum dos Evangelhos. A história passa-se numa casa de família onde vivem duas irmãs: Marta e Maria. O nome “Marta” é a forma feminina da palavra aramaica “mar”, que significa “senhor”. Marta é a “senhora” daquela casa.

Marta e Maria são referidas em Jo 12,1-12 como irmãs de Lázaro, aquele que Jesus ressuscitou dos mortos. No Evangelho de João, o lugar de residência desta família amiga de Jesus é Betânia (a atual “al-Azariye”), uma pequena povoação situada na encosta oriental do Monte das Oliveiras, a cerca de três quilômetros de Jerusalém. Lucas, no entanto, não faz qualquer referência ao nome do lugar onde vivem estas irmãs (“Jesus entrou em certa povoação” – vers. 38). No esquema de Lucas, o episódio parece até situar-se numa localidade longe de Jerusalém, pois Jesus tinha iniciado há pouco a sua caminhada em direção à cidade santa.
O mais provável, para explicar estas incongruências, é que Lucas tivesse recolhido este episódio da tradição e o tivesse enquadrado no seu esquema teológico sem se preocupar com o seu enquadramento geográfico ou cronológico.

Mais do que uma história de acolhimento ou de hospitalidade, esta narração parece ser, sobretudo, uma catequese sobre o discipulado. Quem é o verdadeiro discípulo de Jesus? Qual deve ser a preocupação primordial daquele que se dispõe a seguir Jesus?