Jesus e os seus discípulos estão a caminho de Jerusalém. Aproxima-se a hora em que Jesus, rejeitado e condenado pelas autoridades judaicas, vai ser crucificado. Depois, os discípulos ficarão sós no mundo e terão como missão dar testemunho do Reino de Deus. Jesus aproveita o caminho para preparar os discípulos para a missão que os espera.
A certa altura, Jesus quis propor aos discípulos uma lição sobre orgulho e arrogância. Nesse sentido, lhes contou uma parábola onde entram um fariseu e um publicano (cobrador de impostos). No dizer de Lucas, a parábola tem como alvo aqueles “que se consideravam justos e desprezavam os outros”. Esta parábola só aparece no Evangelho de Lucas.
Os “fariseus” eram um grupo leigo (em oposição aos saduceus, o partido sacerdotal), com bastante influência entre o povo. O historiador Flávio Josefo diz que, no tempo de Herodes, os fariseus eram cerca de 6.000. Descendentes daqueles “piedosos” (“hassidim”) que apoiaram o heroico Matatias na luta contra Antíoco IV Epífanes e a helenização forçada, os fariseus eram os defensores intransigentes da Lei, quer a Lei escrita, quer a Lei oral (a Lei oral constava de uma coleção de leis não escritas, mas que os mestres da escola farisaica tinham deduzido a partir da “Tora” escrita). Mantinham uma estreita ligação com os “escribas”, os mestres e intérpretes da Lei. Esforçavam-se por cumprir escrupulosamente a Lei e procuravam ensiná-la ao Povo. Acreditavam que, quando todos cumprissem a Lei, o Messias chegaria para trazer a libertação a Israel. Convencidos da sua superioridade religiosa e moral, tratavam com desprezo o “povo da terra” (“am ha-aretz”), os ignorantes que não conheciam a Lei nem se importavam com o cumprimento dos preceitos que a Lei impunha. A sua insistência no cumprimento integral da Lei contribuía para criar no povo simples uma sensação latente de pecado e de indignidade que oprimia as consciências e fazia o crente sentir-se longe de Deus. Estavam genuinamente interessados na santificação do Povo de Deus; mas, absolutizando a Lei, acabavam por colocar em segundo plano o amor e a misericórdia.
Os “publicanos” (“publicanus”) eram agentes comerciais privados que executavam a cobrança dos impostos. Considerados servidores do governo imperial romano, eram desprezados pelos seus concidadãos. O publicano recebia do governo, por uma soma fixa anual (determinada a partir de uma estimativa das rendas), o direito de recolher os impostos. A soma fixada e que o publicano devia entregar era inferior à entrada prevista. O publicano retinha para si um eventual excedente. Este sistema favorecia os abusos destes funcionários, que procuravam faturar o máximo possível a fim de garantir ganhos convenientes para eles próprios. Por isso, eram vistos pelo povo como ladrões e exploradores dos seus concidadãos. De acordo com a Mishna, estavam afetados permanentemente de impureza e não podiam sequer fazer penitência, pois eram incapazes de conhecer todos aqueles a quem tinham defraudado e a quem deviam uma reparação. Se um publicano, antes de aceitar o cargo, fazia parte de uma comunidade farisaica, era imediatamente expulso dela e não podia ser reaceito, a não ser depois de abandonar esse cargo. Quem exercia tal ofício, estava privado de certos direitos cívicos, políticos e religiosos; por exemplo, não podia ser juiz nem prestar testemunho em tribunal, sendo equiparado ao escravo.