Compreender os textos Bíblicos não é tarefa fácil, e se torna praticamente impossível se não levarmos em conta os aspectos histórico-culturais e os costumes da época em que cada leitura se passa. Há muitas mensagens escritas que se apóiam nestes aspectos, além de leis específicas, metáforas temporais, problemas de tradução e até mesmo estilos usados pelos autores de cada livro, e quais elementos (ou mesmo objetivos) queriam enfatizar em seus textos.

CONDIÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E COSTUMES DA ÉPOCA DAS PASSAGENS BÍBLICAS

LEITURAS DA SEMANA

"PRÓXIMA REUNIÃO: 10/Dezembro 8:00pm"

Antes de cada reunião semanal, colocaremos nesta página informações úteis, sobre cada leitura, para nos ajudar nesta "viagem no tempo" e, assim, com o auxílio do Espírito Santo de Deus, entendermos as mensagens com este pano de fundo histórico e, finalmente, podermos transportá-las aos nossos dias e às nossas circunstâncias de hoje.

Ref. Domingo 14/Dezembro/2025

3º Domingo do Advento, Ano A, Gaudete

1ª Leitura:  Profecia de Isaías (Is 35: 1-6a, 10)

Os capítulos 34 e 35 de Isaías – designados como “pequeno apocalipse de Isaías”, para distinguir do “grande apocalipse de Isaías” dos capítulos 24-27 – são um caso particular no conjunto do livro. Os comentadores consideram que estes dois capítulos não vêm do primeiro Isaías (o profeta que atuou em Jerusalém entre 740 e 685 a.C., nos reinados de Jotam, Acaz e Ezequias), mas talvez do Deutero-Isaías, um profeta que exerceu a sua missão entre os exilados na Babilônia (entre 550 e 539 a.C.) e do qual provêm também os capítulos 40 a 55 do livro de Isaías. Por que razão os capítulos 34 e 35 de Isaías se apresentam separados do seu “ambiente natural” (Is 40-55)? Provavelmente, foram atraídos pelas peças escatológicas soltas de Is 28-33, em particular pelo capítulo 33.

Em meados do séc. VI a.C., a situação dos exilados na Babilônia era bem difícil. Crescia por todo o lado o desânimo e a frustração. Os anos iam passando e o exílio não terminava. Parecia que Deus os tinha esquecido. Nesse contexto, um profeta que conhecemos pelo nome de Deutero-Isaías se propõe a revitalizar a esperança de Judá e “consolar” aquele povo desanimado. Na sua mensagem, esse profeta garante aos exilados que, num futuro já não muito distante, Deus vai intervir. Como? Antes de tudo, vai julgar e condenar as nações inimigas de Judá, especialmente os edomitas; em seguida, Deus vai derramar a sua bênção sobre o Seu povo e ordenar o regresso triunfal a Sião dos habitantes de Judá exilados na Babilônia. Esta temática será desenvolvida em profundidade pelo mesmo profeta nos capítulos 40-55 do Livro de Isaías.

2ª Leitura:  Carta de São Tiago (Tg 5: 7-10)

O autor da Carta de onde foi extraída a segunda leitura deste terceiro domingo do advento apresenta-se a si próprio como “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”. A tradição o liga ao Tiago “irmão” (parente) do Senhor, que presidiu à Igreja de Jerusalém e do qual os Evangelhos falam acidentalmente como filho de Maria (Mt 13,55; 27,56). De acordo com Flávio Josefo, teria sido martirizado em Jerusalém no ano 62. No entanto, a atribuição deste escrito a tal personagem levanta bastantes dificuldades. O mais certo é estarmos perante um outro qualquer Tiago, desconhecido até agora (o “Tiago, filho de Alfeu” – de que se fala em Mc 3,18 – e o “Tiago, filho de Zebedeu” e irmão de João – de que se fala em Mc 1,19 – também não se encaixam neste perfil). É, de qualquer forma, um autor que escreve em excelente grego, recorrendo até a recursos retóricos como a “diatribe” (um gênero muito usado pela filosofia popular helênica), a perguntas retóricas e a jogos de paradoxos e contrastes. Inspira-se particularmente na literatura sapiencial, para extrair dela lições de moral prática; mas depende também profundamente dos ensinamentos do Evangelho. Trata-se de um sábio judeo-cristão que repensa, de maneira original, as máximas da sabedoria judaica, em função do cumprimento que elas encontraram nas palavras e no ensinamento de Jesus.

A carta de Tiago foi enviada “às doze tribos que vivem na Diáspora”. Provavelmente, a expressão alude a cristãos de origem judaica, dispersos no mundo greco-romano, sobretudo nas regiões próximas da Palestina – como a Síria ou o Egito; mas, também pode referir-se, em termos metafóricos, à totalidade da comunidade de Jesus, dispersa pelo mundo greco-romano. Exorta os crentes a que não percam os valores cristãos autênticos herdados do judaísmo através dos ensinamentos de Cristo. Apela a que os cristãos vivam com coerência e verdade a própria fé.

O nosso texto pertence à terceira parte da carta. Aí, o autor apresenta, num conjunto de desenvolvimentos e de sentenças aparentemente sem ordem nem lógica, indicações concretas destinadas a favorecer uma vida cristã mais autêntica.

Evangelho: segundo Mateus  (Mt 11: 2-11)

Depois de ter sido batizado por João, o “Batista”, nas águas do rio Jordão, Jesus começou a “ver” claramente a missão que o Pai lhe confiava. Deixando João nas margens do rio Jordão, Jesus voltou para a Galileia e instalou-se em Cafarnaum, uma cidade situada na costa noroeste do Mar da Galileia. A cidade era ponto de passagem entre várias rotas comerciais, oferecendo um acesso fácil a todas as aldeias e cidades da região. A partir de Cafarnaum, Jesus passou a percorrer as aldeias e vilas da Galileia, dizendo a todos os que queriam escutá-l’O: “convertei-vos, porque está perto o Reino do Céu”. O Seu anúncio era completado por gestos poderosos, que mostravam como seria esse mundo cheio de vida que, na perspetiva de Jesus, Deus queria oferecer aos seus filhos.

Entretanto João, o “Batista”, continuou nas margens do rio Jordão a propor a sua mensagem de conversão e o seu batismo purificador. Com ousadia profética denunciava o pecado de todos, inclusive do próprio rei Herodes Antipas, tetrarca da Galileia e da Pereia, que tinha repudiado a sua esposa legítima e vivia com Herodíade, mulher do seu irmão Filipe. João denunciou publicamente a atitude de Antipas, considerando-a contrária à Lei. Herodes Antipas, com medo que as palavras de João incendiassem os ânimos da população e causassem uma revolta, mandou prender o “Batista” na fortaleza de Maqueronte, situada a 24 quilômetros a sudeste da foz do rio Jordão, na costa leste do Mar Morto.

Foi de Maqueronte que João, o Batista”, enviou alguns dos seus discípulos a Jesus com uma questão que o incomodava e que ele desejava ver esclarecida: “és Tu Aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” A pergunta sugere dúvida; mas não é desprovida de sentido… João esperava um Messias que viesse lançar fogo à terra, castigar os maus e os pecadores, dar início ao “juízo de Deus”; mas, ao contrário, Jesus aproximou-Se dos pecadores, dos marginais, dos impuros, estendeu-lhes a mão, mostrou-lhes o amor de Deus, ofereceu-lhes a salvação. João e os seus discípulos sentiam-se desconcertados: Jesus era o Messias esperado, ou seria preciso esperar um outro que viesse atuar de uma forma mais decidida, mais severa e mais justiceira?

Mateus tem um interesse especial pela figura de João Batista. Apresenta-o como o precursor que veio preparar os homens para acolher Jesus. Mateus tinha deixado já claro, na cena do batismo, qual dos dois era o mais importante; mas aqui regressa ao tema, exaltando João mas, ao mesmo tempo, colocando-o no seu devido lugar. É provável que, ao fazer esta apresentação, o evangelista queira dirigir-se aos discípulos de João que, na segunda metade do séc. I, ainda mantinham viva a “memória” do “Batista”. Mateus pretenderia “piscar o olho” aos discípulos de João, convidando-os a aderir à proposta cristã e a entrar na Igreja de Jesus.