O interesse fundamental das primeiras gerações cristãs não se centrou na infância de Jesus, mas sim na Sua pregação e na Sua proposta de salvação; por isso, a primeira catequese cristã conservou especialmente as recordações sobre a vida pública e a paixão, morte e ressurreição do Senhor. Só num estágio posterior houve uma certa curiosidade acerca dos primeiros anos da vida de Jesus. Recolheram-se e ordenaram-se, então, algumas informações históricas sobre a infância de Jesus. Esse material serviu de base aos evangelistas Mateus e a Lucas para, a partir dele, tecerem as suas reflexões sobre o mistério de Jesus: a sua pessoa, a sua origem, a sua missão, a razão da sua presença no meio dos homens.
No entanto, a preocupação fundamental de Mateus e de Lucas – ao redigirem o “Evangelho da Infância de Jesus – não era de âmbito histórico e factual, mas sim teológico e catequético. Um e outro recorreram, para construir as suas narrativas, a métodos que os rabis da época utilizavam para explorar e comentar o texto bíblico e que incluíam histórias fantasiosas, reflexões, interpretações, comparações, tudo isso enlaçado com tipologias (correspondência entre fatos e pessoas do Antigo Testamento e outros factos e pessoas do Novo Testamento), manifestações apocalípticas (anjos, aparições, sonhos) e outros recursos literários utilizados pelos “comunicadores” da época. O resultado desse trabalho é um texto muito belo, talvez um tanto ingênuo, artificioso e com base histórica discutível, mas que nos faz mergulhar profundamente no mistério de Jesus, o Deus que veio ao encontro dos homens e encontrou o seu “lar” numa humilde família de Nazaré.
Mateus situa nos dias do rei Herodes, o Grande, o episódio narrado no evangelho deste dia. Herodes nasceu por volta de 73 a.C. e morreu no ano 4 a.C., cerca de dois anos após o nascimento de Jesus. Tornou-se rei da Judeia no ano 40 a.C.; mas, a partir dessa data, foi recebendo das autoridades romanas jurisdição sobre outros territórios, até reinar sobre toda a Palestina. Embora se tenha distinguido pelas grandes obras que levou a cabo, Herodes foi um rei cruel e despótico, que para defender o seu trono cometeu atos de extrema violência, inclusive contra membros da sua própria família.