Compreender os textos Bíblicos não é tarefa fácil, e se torna praticamente impossível se não levarmos em conta os aspectos histórico-culturais e os costumes da época em que cada leitura se passa. Há muitas mensagens escritas que se apóiam nestes aspectos, além de leis específicas, metáforas temporais, problemas de tradução e até mesmo estilos usados pelos autores de cada livro, e quais elementos (ou mesmo objetivos) queriam enfatizar em seus textos.

CONDIÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E COSTUMES DA ÉPOCA DAS PASSAGENS BÍBLICAS

LEITURAS DA SEMANA

"PRÓXIMA REUNIÃO: 17/Dezembro 8:00pm"

Antes de cada reunião semanal, colocaremos nesta página informações úteis, sobre cada leitura, para nos ajudar nesta "viagem no tempo" e, assim, com o auxílio do Espírito Santo de Deus, entendermos as mensagens com este pano de fundo histórico e, finalmente, podermos transportá-las aos nossos dias e às nossas circunstâncias de hoje.

Ref. Domingo 21/Dezembro/2025

4º Domingo do Advento, Ano A

1ª Leitura:  Profecia de Isaías (Is 7: 10-14)

No ano 745 a.C. Tiglat-Pileser III sobe ao trono assírio. Inicia imediatamente uma política imperialista que conduz à anexação de diversos reinos da região. Alguns anos depois, em 738 a.C., as tropas assírias invadem os reinos de Tiro, Damasco e Israel. Esses reinos ficam submetidos a Tiglat-Pileser III e são obrigados a pagar-lhe um pesado tributo. Tiglat-Pileser III, contudo, obrigado a enfrentar problemas militares no norte do seu império, não avança para a conquista do reino de Judá.

Em 736 a.C., Acaz sobe ao trono de Judá. Pouco depois Pecah, rei de Israel, toma a decisão de rebelar-se contra o domínio assírio. Convida Acaz, rei de Judá, a entrar numa coligação anti-assíria com Rezin, rei da Síria. Acaz, prevendo que uma aventura desse tipo acabaria mal, recusa. Então Pecah e Rezin lançam as suas tropas contra Jerusalém, com o objetivo de derrubar Acaz e instalar no trono de Judá um rei disposto a participar numa rebelião contra a Assíria. Acaz receia não poder opor-se às tropas de Pecah e Rezin. Decide então pedir a ajuda dos assírios para resistir aos invasores. O profeta Isaías não está de acordo com a decisão de Acaz: para ele, Judá deve contar unicamente com Deus; confiar a segurança da nação a potências e a exércitos estrangeiros é, na perspetiva de Isaías, abandonar Deus e expor o país a dependências que só podem trazer sofrimento e opressão.

Isaías, acompanhado do seu filho Chear-Yachub, vai encontrar-se com o rei Acaz junto do aqueduto de Guijon, uma fonte de água que abastecia Jerusalém. Pede-lhe que confie em Deus, pois Deus irá livrá-lo dos exércitos de Pecah e Rezin. Não será necessário pedir a intervenção da Assíria. Acaz, no entanto, mantém-se firme na sua decisão política de pedir auxílio aos assírios.

2ª Leitura:  Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 1: 1-7)

Em meados do séc. I, Roma era a maior cidade do mundo, com aproximadamente um milhão de habitantes. Neste número estavam incluídos cerca de 50.000 judeus.

Provavelmente, o cristianismo chegou a Roma levado por judeus palestinos convertidos ao Evangelho de Jesus. Uma antiga tradição diz que foi Pedro quem anunciou o Evangelho em Roma, por volta do ano 42, e que da sua pregação resultou uma florescente comunidade cristã. No entanto, não temos evidências que comprovem esta tradição.

Paulo escreveu a sua Carta aos Romanos por volta do ano 57 ou 58. Estava, por essa altura, prestes a terminar a sua terceira viagem missionária. Sentia que tinha concluído a sua missão no Mediterrâneo oriental, pois as igrejas que fundara e acompanhara nessas paragens estavam organizadas e já podiam caminhar por si próprias. O olhar de Paulo dirigia-se agora para ocidente. O apóstolo pensava passar por Roma, deter-se algum tempo nessa cidade e viajar depois para a Espanha para aí anunciar o Evangelho. Ao dirigir-se por carta aos cristãos de Roma, Paulo pretendia estabelecer laços com eles; mas também aproveitou a oportunidade para lhes apresentar os principais problemas que então o preocupavam, entre os quais sobressaía a questão da unidade. Tratava-se de um problema que se sentia um pouco por todo o lado e que também inquietava a jovem comunidade cristã de Roma, afetada por dificuldades de relacionamento entre cristãos de origem judaica e cristãos vindos do mundo greco-romano. Com serenidade e lucidez, evitando qualquer polêmica, Paulo expôs aos cristãos de Roma as linhas mestras do Evangelho que anunciava. A Carta aos Romanos é uma espécie de resumo da teologia paulina e, do ponto de vista teológico, o escrito mais completo de Paulo.

Na primeira parte da Carta, Paulo vai fazer notar aos cristãos divididos que o Evangelho é a força que congrega e que salva todo o crente, sem distinção de judeu, grego ou romano. Embora o pecado seja uma realidade universal, que afeta todos os homens, a “justiça de Deus” dá vida a todos, sem distinção; e é em Jesus Cristo que essa vida se comunica e que transforma o homem. Batizado em Cristo, o cristão morre para o pecado e nasce para uma vida nova. Passa a ser conduzido pelo Espírito e torna-se filho de Deus; libertado do pecado e da morte, produz frutos de santificação e caminha para a Vida eterna. Na segunda parte da carta Paulo, de uma forma bastante prática, exorta os cristãos a viverem de acordo com o Evangelho de Jesus.

O texto que nos é hoje proposto é parte da introdução à carta. Sabendo que se trata de uma comunidade que não foi fundada por ele, Paulo adota singulares precauções diplomáticas, a fim de não melindrar os cristãos de Roma. Começa por se apresentar e por definir a missão que Deus lhe confiou.

Evangelho: segundo Mateus  (Mt 1: 18-24)

O texto que nos é hoje proposto pertence ao “Evangelho da Infância”, na versão de Mateus. Os “Evangelhos da Infância de Jesus” (quer o de Mateus, quer o de Lucas) enquadram-se num gênero literário próprio, que utiliza técnicas do midrash haggádico (um método de abordagem do texto bíblico utilizado pelos rabis judaicos com o objetivo de captar o significado pleno do referido texto) para nos apresentar o mistério de Jesus. A preocupação dos evangelistas que nos legaram os “Evangelhos da Infância” não é apresentar um relato factual dos acontecimentos dos primeiros anos de Jesus, mas sim oferecer às suas comunidades uma catequese que proclame determinadas realidades salvíficas: que Jesus é o Messias, que Ele vem de Deus, que Ele é o “Deus conosco”. Com recurso a tipologias (correspondência entre fatos e pessoas do Antigo Testamento e outros fatos e pessoas do Novo Testamento), a manifestações apocalípticas (anjos, aparições, sonhos) e a outros recursos literários, Mateus e Lucas tecem as suas catequeses sobre Jesus, o Filho de Deus que veio ao encontro dos homens. O Evangelho que nos é hoje proposto deve ser entendido a esta luz e neste enquadramento.

Para entendermos a “narração do nascimento de Jesus” que Mateus nos apresenta, devemos enquadrá-la no contexto dos costumes matrimoniais em vigor na sociedade palestina da época. Mateus diz-nos, logo no início do relato, que Maria e José estavam noivos, mas ainda não viviam em comum. O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro (os “esponsais”); só depois, numa segunda fase, surgia o compromisso definitivo, selado com as cerimônias do matrimônio propriamente dito. Entre os “esponsais” e a celebração do matrimônio, passava um tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar atrás, ainda que sofrendo uma penalidade. Durante esse tempo, os noivos não viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um caráter estável e vinculativo, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da noiva “prometida” como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa. A união entre os dois “prometidos” só podia dissolver-se com a fórmula jurídica do divórcio. Ora, segundo o texto que nos é proposto, José e Maria estavam na situação de “prometidos”: ainda não tinham celebrado o matrimônio, mas já tinham celebrado os “esponsais”.