O Evangelho do trigésimo terceiro domingo comum nos situa em Jerusalém, num dos dias que precedem a prisão, condenação e morte de Jesus na cruz. O programa de Jesus, nestes dias, é sempre igual: de manhã, se dirige ao templo e passa aí o dia, “a ensinar”; ao final da tarde sai da cidade, atravessa o vale do Cedron e vai até ao Monte das Oliveiras, onde passa a noite. Esses dias também vão ser marcados por diversas controvérsias entre Jesus e os líderes judaicos. A sombra da cruz paira, a cada instante, no horizonte próximo de Jesus.
Tudo começa com os comentários “de alguns” sobre a beleza e a riqueza do templo de Jerusalém. O templo era, na verdade, uma construção magnífica. Herodes, o Grande, tinha começado as obras de ampliação e de restauração do templo no ano 19 a.C.; mas, na época em que Jesus andava por Jerusalém, os trabalhos continuavam (só foram concluídos por volta do ano 63 d.C.). A área do templo ocupava uma superfície de mil e quinhentos metros quadrados e as pedras utilizadas na construção chegavam a ter vinte metros de comprimento. Coberto de mármore branco, o templo refletia os raios do sol e brilhava como uma joia preciosa. As portas tinham incrustações de ouro e no interior havia tapeçarias de linho finíssimo de cor azul, escarlate e púrpura.
Em resposta aos comentários sobre a grandiosidade e a beleza do templo, Jesus avisa que, um dia, toda essa construção desaparecerá. Muito impressionados, os interlocutores de Jesus pedem-lhe explicações: quando será isso? Em resposta, Jesus deixa-lhes uma longa instrução que é conhecida como o “discurso escatológico”.
Na versão do evangelista Lucas, o “discurso escatológico” de Jesus menciona três momentos, ou temas, da história futura: a destruição de Jerusalém (que veio a concretizar-se no ano 70, quando as tropas romanas sob o comando de Tito tomaram Jerusalém e destruíram o templo), as vicissitudes que os discípulos irão enfrentar ao longo do seu caminho histórico e, por fim, a vinda definitiva do Filho do Homem. De acordo com o texto de Lucas, Jesus recorre, para falar de tudo isto, a imagens estereotipadas de que os pregadores escatológicos da época se serviam quando discorriam sobre o fim dos tempos. A finalidade de Lucas, ao nos oferecer o “discurso escatológico de Jesus”, não é tanto descrever os acontecimentos da história futura dos homens, mas sim transmitir aos crentes – aos crentes da década de oitenta do primeiro século e aos crentes de todas as épocas – a força para viverem o seu compromisso com Jesus no meio das dificuldades, incompreensões e perseguições que a história os obrigará a enfrentar.