Impostos excessivos, roubos à mão armada, obrigatoriedade de trabalhos forçados, prepotências e injustiças de todo o tipo amarguravam o dia a dia do povo simples da região.
De acordo com o livro, o ministério profético de Miqueias prolongou-se pelos reinados de Jotam (739-734 a.C.), Acaz (734-727 a.C.) e Ezequias (727-698 a.C.). Para Judá, foi uma fase histórica difícil, marcada pela hegemonia da Assíria na região. Em 722 a.C., o rei assírio Salamanasar V conquistou a Samaria e, paralelamente, converteu Judá em vassalo da Assíria. Ezequias, rei de Judá, teve de se submeter ao poderio assírio. Depois de alguns anos de relativa calma, aproveitando a morte do rei Sargão II (705 a.C.), Ezequias aderiu a uma coligação antiassíria; mas Senaquerib, sucessor de Sargão II, invadiu Judá, conquistou diversas cidades e cercou Jerusalém. Para evitar males maiores, Ezequias submeteu-se e comprometeu-se a pagar aos assírios um pesado tributo. Foi esse o cenário histórico que marcou os últimos anos do reinado de Ezequias.
Miqueias conhecia bem a situação dos camponeses de Judá. A sua mensagem denuncia as injustiças praticadas pelos grandes latifundiários, a venalidade dos juízes, as violências praticadas pelos militares e pela classe dirigente contra o povo simples, as mensagens mentirosas dos falsos profetas, a religião cúmplice dos injustos e prepotentes, a infidelidade a Deus manifestada no culto aos deuses estrangeiros… Miqueias considera que Deus está farto de tanto pecado e que se prepara para castigar Judá. Esta denúncia aparece sobretudo nos capítulos 1 a 3 do livro de Miqueias.
No entanto, o profeta deixa a porta aberta à esperança. Nos capítulos 4 e 5 do livro de Miqueias aparecem diversos oráculos de salvação que falam de um tempo novo que Deus prepara para o seu Povo: um resto de Judá será o viveiro de reflorescimento da nação; Jerusalém será um centro para onde acorrerão povos de toda a terra, a fim de se encontrarem com Deus; aparecerá um rei, da descendência de David, que apascentará Judá e inaugurará um tempo novo de tranquilidade, de paz e de abundância de vida. Alguns biblistas pensam que estes capítulos não foram redigidos por Miqueias, mas sim por um profeta anônimo, na época do Exílio na Babilônia.
O texto que a liturgia deste quarto domingo do advento nos propõe como primeira leitura pertence a este conjunto de “oráculos de salvação”.