Depois de ter sido batizado por João, o “Batista”, nas águas do rio Jordão, Jesus começou a “ver” claramente a missão que o Pai lhe confiava. Deixando João nas margens do rio Jordão, Jesus voltou para a Galileia e instalou-se em Cafarnaum, uma cidade situada na costa noroeste do Mar da Galileia. A cidade era ponto de passagem entre várias rotas comerciais, oferecendo um acesso fácil a todas as aldeias e cidades da região. A partir de Cafarnaum, Jesus passou a percorrer as aldeias e vilas da Galileia, dizendo a todos os que queriam escutá-l’O: “convertei-vos, porque está perto o Reino do Céu”. O Seu anúncio era completado por gestos poderosos, que mostravam como seria esse mundo cheio de vida que, na perspetiva de Jesus, Deus queria oferecer aos seus filhos.
Entretanto João, o “Batista”, continuou nas margens do rio Jordão a propor a sua mensagem de conversão e o seu batismo purificador. Com ousadia profética denunciava o pecado de todos, inclusive do próprio rei Herodes Antipas, tetrarca da Galileia e da Pereia, que tinha repudiado a sua esposa legítima e vivia com Herodíade, mulher do seu irmão Filipe. João denunciou publicamente a atitude de Antipas, considerando-a contrária à Lei. Herodes Antipas, com medo que as palavras de João incendiassem os ânimos da população e causassem uma revolta, mandou prender o “Batista” na fortaleza de Maqueronte, situada a 24 quilômetros a sudeste da foz do rio Jordão, na costa leste do Mar Morto.
Foi de Maqueronte que João, o Batista”, enviou alguns dos seus discípulos a Jesus com uma questão que o incomodava e que ele desejava ver esclarecida: “és Tu Aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” A pergunta sugere dúvida; mas não é desprovida de sentido… João esperava um Messias que viesse lançar fogo à terra, castigar os maus e os pecadores, dar início ao “juízo de Deus”; mas, ao contrário, Jesus aproximou-Se dos pecadores, dos marginais, dos impuros, estendeu-lhes a mão, mostrou-lhes o amor de Deus, ofereceu-lhes a salvação. João e os seus discípulos sentiam-se desconcertados: Jesus era o Messias esperado, ou seria preciso esperar um outro que viesse atuar de uma forma mais decidida, mais severa e mais justiceira?
Mateus tem um interesse especial pela figura de João Batista. Apresenta-o como o precursor que veio preparar os homens para acolher Jesus. Mateus tinha deixado já claro, na cena do batismo, qual dos dois era o mais importante; mas aqui regressa ao tema, exaltando João mas, ao mesmo tempo, colocando-o no seu devido lugar. É provável que, ao fazer esta apresentação, o evangelista queira dirigir-se aos discípulos de João que, na segunda metade do séc. I, ainda mantinham viva a “memória” do “Batista”. Mateus pretenderia “piscar o olho” aos discípulos de João, convidando-os a aderir à proposta cristã e a entrar na Igreja de Jesus.