O profeta Isaías (autor dos capts. 1-39 do Livro de Isaías) nasceu por volta do ano 760 a. C., no tempo do rei Ozias. De origem nobre, parece ter vivido em Jerusalém e frequentado o ambiente da corte. Culto e respeitado, fazia parte dos notáveis do país: participava nas decisões relativas ao Reino, falando com autoridade aos altos funcionários e mesmo aos reis.
Foi por volta de 740 a.C., quando tinha cerca de vinte anos, que Isaías sentiu o chamamento de Deus e iniciou a sua missão profética. Essa missão prolongou-se durante os reinados de Jotam, Acaz e Ezequias, reis de Judá.
A época em que Isaías exerceu o seu ministério profético é uma época agitada, do ponto de vista político, marcada pelo expansionismo do império assírio. No ano 745 a.C., Tiglat-Pileser III sobe ao trono assírio e envia os seus exércitos para submeter os povos da zona. Os pequenos reinos da região, assustados com a política militar agressiva dos assírios, procuraram resistir constituindo coligações defensivas anti-assírias. Judá, apesar dos esforços de Acaz, não conseguiu evitar se envolver nesses jogos de política internacional, acabando por cair na zona de influência dos assírios. Isaías nunca aprovou a participação de Judá nesses jogos da política internacional. Para o profeta, Judá devia abster-se das alianças políticas com potências estrangeiras, sempre perigosas e geradoras de instabilidade. A única política aceitável, para o povo da Aliança, era colocar a sua segurança e esperança nas mãos de Deus.
Mais tarde, já no reinado de Ezequias, Judá procurou libertar-se da influência assíria entrando numa coligação anti-assíria com o Egito, a Fenícia e a Babilônia. Isaías, uma vez mais, condenou essa iniciativa. Para o profeta, colocar a segurança e a esperança da nação no poder de exércitos estrangeiros não poderia conduzir senão à ruína de Judá. De fato, as previsões funestas de Isaías realizaram-se quando Senaquerib invadiu Judá, cercou Jerusalém e obrigou Ezequias a submeter-se ao poderio assírio (701 a.C.).
Os últimos oráculos de Isaías são de 701 ou, talvez, de 689 a. C. Isaías deve ter morrido poucos anos depois, embora não saibamos ao certo quando. Um apócrifo judeu do séc. I d. C. – “Ascensão de Isaías” – afirma que foi assassinado pelo rei ímpio Manassés.
A primeira leitura que a liturgia deste domingo nos propõe e nos apresenta um poema cujo enquadramento histórico não é fácil de definir. Para alguns autores, contudo, este poema (e outros semelhantes) surge na fase final da atividade profética de Isaías, talvez nos últimos anos do reinado de Ezequias. Por essa altura, desiludido com o aventureirismo político dos reis de Judá, o profeta teria começado a sonhar com um tempo novo, sem armas e sem guerras, de justiça e de paz sem fim. Tal “reino” só poderia surgir da iniciativa de Javé (os reis humanos de há muito que se haviam revelado incapazes de conduzir o Povo em direção a um futuro de paz); e o instrumento de Javé na implementação desse “reino” seria, na opinião do profeta, um descendente de David. Este texto será, talvez, dessa época em que a profecia e o sonho de um mundo melhor se combinam.