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Compreender os textos Bíblicos não é tarefa fácil, e se torna praticamente impossível se não levarmos em conta os aspectos histórico-culturais e os costumes da época em que cada leitura se passa. Há muitas mensagens escritas que se apóiam nestes aspectos, além de leis específicas, metáforas temporais, problemas de tradução e até mesmo estilos usados pelos autores de cada livro, e quais elementos (ou mesmo objetivos) queriam enfatizar em seus textos.

CONDIÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E COSTUMES DA ÉPOCA DAS PASSAGENS BÍBLICAS

LEITURAS DA SEMANA

"PRÓXIMA REUNIÃO: 23 de Janeiro de 2025"

Antes de cada reunião semanal, colocaremos nesta página informações úteis, sobre cada leitura, para nos ajudar nesta "viagem no tempo" e, assim, com o auxílio do Espírito Santo de Deus, entendermos as mensagens com este pano de fundo histórico e, finalmente, podermos transportá-las aos nossos dias e às nossas circunstâncias de hoje.

1ª Leitura:  Livro de Neemias (Ne 8: 2-4a, 5-6, 8-10)

2ª Leitura: Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 12: 12-30)

Evangelho: segundo Lucas (Lc 1: 1-4, 4, 14-21)

Ref. Domingo 25/Janeiro/2025

3º Domingo do Tempo Comum - Ano C

Ao longo deste ano litúrgico (Ano C), a liturgia nos propõe a escuta e a reflexão do Evangelho segundo Lucas. Lucas, o evangelista que nos legou o terceiro Evangelho, não foi uma testemunha ocular de Jesus; era um cristão de segunda ou terceira geração, médico de profissão, que se tornou discípulo e colaborador de Paulo. Escreveu o seu Evangelho em meados dos anos oitenta do primeiro século, provavelmente para comunidades cristãs de língua grega.

Depois de nos apresentar, no Evangelho, o “tempo de Jesus”, Lucas nos deixou uma outra obra – os Atos dos Apóstolos – onde nos fala da etapa seguinte da história da salvação: o “tempo da Igreja”, a fase em que os discípulos, guiados pelo Espírito, dão testemunho de Jesus “até aos confins da terra”.

O texto evangélico deste domingo nos oferece, logo no início, um “prólogo” literário onde o evangelista, à boa maneira dos escritores gregos da época, apresenta a sua obra. Refere os motivos que o levaram a escrever o Evangelho e as fontes com que contou para a compor. Destina a obra a um tal “Teófilo”, que poderá ser uma pessoa concreta ou um nome fictício (a palavra significa “amigo de Deus”) para designar qualquer pessoa que esteja interessado em conhecer a vida e a obra de Jesus. Estudiosos entendem que pode ser uma obra legal (para oferecer informação necessária para responder a um processo romano, em que detalha em suas obras quem era Jesus Cristo e como a igreja cristã foi estabelecida junto às novas comunidades cristãs).

Mas, logo depois do “prólogo”, o texto litúrgico deste domingo salta para o momento em que Jesus, na sinagoga de Nazaré, apresenta o seu “programa”. Nazaré, a terra onde Jesus passou uma boa parte da sua vida, era uma pequena povoação, com cerca de 500 habitantes, situada na baixa Galileia. A maior parte dos seus habitantes eram agricultores que cuidavam de terras pertencentes a grandes latifundiários; alguns, contudo, eram “artesãos” que trabalhavam em diversos ofícios ligados à construção civil. A sinagoga era o espaço de encontro da assembleia crente. Ao sábado, a comunidade se reunia na sinagoga para a oração e para a escuta das leituras da Lei e dos Profetas, com o respetivo comentário. A proclamação das leituras era feita por algum membro mais instruído da comunidade ou por algum visitante ilustre, conhecido pelo seu saber na explicação das escrituras, convidado pelo chefe da sinagoga a proclamar e a explicar a Palavra de Deus.

Inicialmente, os 13 capítulos que constituem o Livro de Neemias e os dez capítulos que constituem o livro de Esdras formavam uma unidade (estavam reunidos sob o título geral “Esdras”). Já na época cristã todo esse material apareceu dividido em duas partes: o livro de Esdras e o livro de Neemias. Não são claras as razões da divisão do livro inicial em dois textos autônomos.

Os livros de Esdras e de Neemias nos situam em Jerusalém, na época pós-exílica. Referem-se a acontecimentos que vão desde o decreto de Ciro, em 538 a.C. (o decreeto que autorizou o regresso a Jerusalém dos exilados judeus na Babilônia), até inícios do séc. IV a.C (por volta de 400 a.C.). Os grandes temas abordados nestes livros são o regresso dos exilados, a reconstrução de Jerusalém e do Templo, a restauração da nação judaica após os anos dramáticos do Exílio.

Para os judeus que retornaram a Jerusalém, é uma época de miséria e desolação: Jerusalém está sem muralhas e sem portas; a pobreza de meios torna a reconstrução da cidade lenta e penosa; os inimigos de Judá espreitam e conspiram, procurando impedir o ressurgimento da nação judaica…

O sacerdote e escriba Esdras liderou um grupo de exilados (sacerdotes, levitas, porteiros, cantores) que, por volta de 457 a.C., retornaram a Jerusalém. A missão de Esdras consistia prioritariamente em reorganizar a comunidade em volta do Templo e da Lei de Deus.

Neemias, por sua vez, era um alto funcionário judeu na corte de Susa, que veio para Jerusalém por volta do ano 445 a.C., autorizado pelo rei persa Artaxerxes. O seu objetivo prioritário era a reconstrução das muralhas da cidade. Tratou também de pôr fim às injustiças cometidas pelos ricos contra os mais pobres e de restaurar o culto.

É neste contexto de preocupação com a restauração do culto que podemos situar o trecho que nos é proposto como primeira leitura neste terceiro domingo comum.

A comunidade cristã de Corinto, nascida do trabalho missionário de Paulo entre o outono do ano 50 e a primavera do ano 52, era viva, interessada e fervorosa; mas conhecia diversos problemas que resultavam, em grande parte, do ambiente social e cultural que se respirava na cidade. Em Corinto se podiam notar bem os problemas que a proposta cristã teve de enfrentar ao se encontrar com uma cultura diversa, como era o caso da cultura helênica.

Um dos problemas que afetava a vida da comunidade resultava de uma concepção errada dos “carismas” e da forma como estes deviam ser encarados em contexto comunitário. Paulo aborda esta questão nos capítulos na primeira Carta aos Coríntios.

A palavra “carisma” designa dons especiais concedidos gratuitamente pelo Espírito a determinado indivíduo, destinados a responder às necessidades do mundo e, particularmente, à edificação da comunidade cristã. Nas cartas de Paulo se fala insistentemente em “carismas” que animavam a vida e o dinamismo das comunidades cristãs.

A comunidade cristã de Corinto sentia-se especialmente agraciada por estes dons do Espírito. No entanto, os coríntios confundiam frequentemente os “carismas” com certos fenômenos de exaltação religiosa bastante comuns na religião grega tradicional. Paulo sente-se na obrigação de dizer aos cristãos de Corinto que os “carismas” dados pelo Espírito não podem levar a práticas pouco alinhadas com o Evangelho de Jesus. São verdadeiros os carismas que levam à profissão de fé em Jesus e à construção da comunidade cristã.

Por outro lado, os “carismas” de que alguns se julgavam investidos pelo Espírito eram, com frequência, fatores de divisão e de conflito. Considerando-se a si próprios “escolhidos de Deus”, alguns dos “carismáticos” reivindicavam um protagonismo que danificava a comunhão fraterna. Apresentando-se como mensageiros incontestados das coisas divinas, assumiam atitudes de autoritarismo e de prepotência que não favoreciam a fraternidade; desprezavam os que não tinham sido dotados destes dons, considerando-os como “cristãos de segunda”, limitados a um lugar subalterno no contexto comunitário.

Paulo procura fazer os coríntios entender a necessidade de haver uma comunidade unida e fraterna, onde todos os membros estão plenamente integrados e onde todos contribuem para o bem de todos. Nesse sentido, serve-se de uma metáfora frequentemente usada pelos escritores antigos, particularmente os filósofos estoicos (como Sêneca, Marco Aurélio, Epicteto): a comunidade é como um corpo, constituído por muitos membros, e onde todos os membros desempenham funções diversas e importantes para o todo.