Compreender os textos Bíblicos não é tarefa fácil, e se torna praticamente impossível se não levarmos em conta os aspectos histórico-culturais e os costumes da época em que cada leitura se passa. Há muitas mensagens escritas que se apóiam nestes aspectos, além de leis específicas, metáforas temporais, problemas de tradução e até mesmo estilos usados pelos autores de cada livro, e quais elementos (ou mesmo objetivos) queriam enfatizar em seus textos.

CONDIÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E COSTUMES DA ÉPOCA DAS PASSAGENS BÍBLICAS

LEITURAS DA SEMANA

"PRÓXIMA REUNIÃO: 19/Novembro 8:00pm"

Antes de cada reunião semanal, colocaremos nesta página informações úteis, sobre cada leitura, para nos ajudar nesta "viagem no tempo" e, assim, com o auxílio do Espírito Santo de Deus, entendermos as mensagens com este pano de fundo histórico e, finalmente, podermos transportá-las aos nossos dias e às nossas circunstâncias de hoje.

Ref. Domingo 23/Novembro/2025

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, Solenidade, Ano C

1ª Leitura:  Segundo Livro de Samuel (2Sm 5: 1-3)

O Livro de Samuel (dividido em duas partes – 1Samuel e 2Samuel) situa-nos no período histórico que vai de meados do séc. XI a.C. até ao final do reinado de David (972 a.C.). Depois de apresentar diversas tradições históricas relativas ao período pré-monárquico (o tempo da instalação e da consolidação das tribos do Povo de Deus na terra de Canaan), nos narra o início da experiência monárquica (eleição do rei Saul, os seus feitos militares, a derrota de Saul às mãos dos filisteus) e a ascensão do rei David ao trono de Israel e de Judá. Na parte final da obra, o autor deuteronomista nos oferece um conjunto de tradições sobre a realeza davídica, incluindo o longo e conturbado processo de sucessão de David.

Por volta do ano 1007 a.C., o reino de Saul (que agrupava as tribos instaladas no norte e no centro da terra de Canaan) sofreu um rude golpe, com a morte do rei e de Jônatas (filho e natural sucessor de Saul) às mãos dos filisteus, numa batalha travada junto do monte Guilboá. Por esta altura, em contrapartida, David já reinava (desde 1012 a.C.) sobre as tribos instaladas no sul do país.

Ishboshet, um outro filho de Saul, foi escolhido para suceder a seu pai no trono de Israel; e ainda reinou dois anos sobre as tribos do norte e do centro. Contudo, acabou por ter a oposição de Abner, chefe dos exércitos do norte, que ofereceu a David a autoridade sobre as tribos que formavam o reino de Saul. Abner foi, entretanto, assassinado por Joab, general de David. Pouco depois, também Ishboshet, o filho de Saul, foi assassinado (os teólogos deuteronomistas, responsáveis pela redação do livro de Samuel, garantem, no entanto, que David não teve nada a ver com esses atos violentos). Finalmente, os anciãos do norte – apostados em encontrar uma liderança forte que lhes permitisse resistir à pressão militar dos filisteus – decidiram propor a David que, além de ser rei de Judá, no sul, também aceitasse dirigir os destinos das tribos do norte e do centro.

É diante deste quadro histórico que a leitura de hoje nos coloca. David está em Hebron, o lugar onde está instalada a capital das tribos do sul. É aí que, pelo ano 1005 a.C., os representantes das tribos do norte e do centro se encontram com David e o convidam a reinar sobre todo o Israel.

2ª Leitura:  Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl 1: 12-20)

Colossos era uma cidade da Frígia (Ásia Menor), situada a cerca de 180 quilômetros a Este de Éfeso, no vale do rio Lico. Tinha sido, em tempos mais recuados, uma cidade rica e populosa; mas, no tempo de Paulo, tinha perdido a sua antiga importância e estava reduzida a uma pequena povoação.

A comunidade cristã dessa cidade não foi fundada por Paulo mas por Epafras, discípulo de Paulo e colossense de origem. A maior parte dos membros da comunidade eram de origem pagã; mas havia também alguns de origem judaica.

A carta aos Colossenses terá sido escrita numa altura em que Paulo estava na prisão (provavelmente em Roma). Estaríamos entre os anos 61 e 63. Epafras visitou Paulo e levou-lhe notícias pouco satisfatórias sobre a comunidade cristã de Colossos. Alguns “doutores” locais (talvez membros de um movimento de índole sincretista, que misturava cristianismo com elementos de religiões mistéricas em voga no mundo helenista) propunham aos Colossenses um sistema religioso que incluía, além do Evangelho de Jesus, práticas ascéticas rigorosas, prescrições sobre os alimentos, doutrinas especulativas sobre os anjos, celebrações que não faziam parte do universo cristão. Na opinião desses “doutores”, tudo isto devia comunicar aos crentes um conhecimento superior dos mistérios e uma maior perfeição. Paulo desmonta toda esta confusão doutrinal e afirma que nenhum destes elementos tem qualquer importância para a salvação: Cristo basta.
O texto que hoje nos é proposto deve ser enquadrado nesta perspetiva. Inclui um hino de duas estrofes, que provavelmente Paulo tomou da liturgia cristã primitiva, mas que está perfeitamente integrado no conteúdo geral da carta. Este hino cristão de inspiração sapiencial celebra a grandeza universal de Cristo.

Evangelho: segundo Lucas  (Lc 23: 35-43)

Jesus foi preso no jardim das Oliveiras pelos soldados do templo numa noite de quinta-feira do mês de Nisan do ano 30. Logo em seguida, foi conduzido pelos soldados ao palácio do sumo sacerdote, onde foi maltratado e insultado durante uma boa parte da noite. De manhã, Jesus foi apresentado diante de um Conselho de notáveis, formado por anciãos do povo, sumo sacerdotes e doutores da Lei. Os membros do Conselho o interrogaram e procuraram definir a sua culpa. Quando acharam que já tinham os dados necessários, fizeram Jesus comparecer diante do procurador romano Pôncio Pilatos. Acusavam-no de sublevar o povo contra César e de se apresentar como o Messias-Rei.

Pilatos não ficou convencido da culpabilidade do réu. Tentou, de diversas formas, libertar Jesus; mas, pressionado pelos dirigentes judeus, acabou por ceder e por decretar a condenação de Jesus à morte na cruz.

O cortejo com os condenados (havia mais dois, além de Jesus – saiu do palácio de Pôncio Pilatos e dirigiu-se, através das ruas da cidade, para o local das execuções, uma pequena colina situada fora das muralhas, mas que era um lugar de passagem para os que entravam e saíam da cidade. Dessa forma, todos os que passavam por ali podiam ver o que acontecia a quem afrontava o poder romano. O traçado que Jesus e os outros condenados tinham de percorrer era relativamente curto, talvez de uns quinhentos metros.

Jesus, como os outros condenados, levava às costas uma trave, a trave transversal da cruz. As fontes dizem que Jesus, enfraquecido pela tortura, não conseguiu levar a trave até ao fim. Os soldados, com medo que ele morresse antes de a sentença ter sido executada, tiveram de requisitar um tal Simão de Cirene, um homem que vinha do campo, para carregar a trave que Jesus transportava às costas.

Não tardaram a chegar ao Gólgota, o lugar das execuções de Jerusalém. Era um local sinistro. “Gólgota” (do arameu “gulgultá”) significa “lugar do crânio, ou da caveira”. Era uma pequena colina de dez ou doze metros de altura. No cimo dessa pequena colina podiam ver-se, espetados na terra, os paus verticais onde iriam ser penduradas as traves que os condenados transportavam às costas.

Procedeu-se então à crucifixão dos condenados. Despiram-nos, para lhes degradar a dignidade. Depois, os soldados deitaram sortes para ver quem ficava com as vestes dos condenados. Estenderam Jesus e os outros dois no chão e os pregaram ao travessão lateral pelos pulsos; depois elevaram o travessão com o corpo de cada condenado e fixaram-no no pau vertical. Com cravos, fixaram os pés dos condenados ao pau vertical. Na parte superior da cruz de Jesus havia um letreiro identificando o condenado e dizendo a razão da sua condenação: “o basileus tôn Ioudaiôn outos” (“este é o rei dos judeus”).

É o final da “caminhada” terrena de Jesus: estamos perante o último quadro de uma vida gasta ao serviço da construção do Reino de Deus. As bases do Reino já estão lançadas e Jesus é apresentado como “o Rei” que preside a esse “estranho” Reino cujos contornos não foram desenhados pelos homens mas sim por Deus.