Compreender os textos Bíblicos não é tarefa fácil, e se torna praticamente impossível se não levarmos em conta os aspectos histórico-culturais e os costumes da época em que cada leitura se passa. Há muitas mensagens escritas que se apóiam nestes aspectos, além de leis específicas, metáforas temporais, problemas de tradução e até mesmo estilos usados pelos autores de cada livro, e quais elementos (ou mesmo objetivos) queriam enfatizar em seus textos.

CONDIÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E COSTUMES DA ÉPOCA DAS PASSAGENS BÍBLICAS

LEITURAS DA SEMANA

"PRÓXIMA REUNIÃO: 3/Dezembro 8:00pm"

Antes de cada reunião semanal, colocaremos nesta página informações úteis, sobre cada leitura, para nos ajudar nesta "viagem no tempo" e, assim, com o auxílio do Espírito Santo de Deus, entendermos as mensagens com este pano de fundo histórico e, finalmente, podermos transportá-las aos nossos dias e às nossas circunstâncias de hoje.

Ref. Domingo 7/Dezembro/2025

2º Domingo do Advento, Ano A

1ª Leitura:  Profecia de Isaías (Is 11: 1-10)

O profeta Isaías (autor dos capts. 1-39 do Livro de Isaías) nasceu por volta do ano 760 a. C., no tempo do rei Ozias. De origem nobre, parece ter vivido em Jerusalém e frequentado o ambiente da corte. Culto e respeitado, fazia parte dos notáveis do país: participava nas decisões relativas ao Reino, falando com autoridade aos altos funcionários e mesmo aos reis.

Foi por volta de 740 a.C., quando tinha cerca de vinte anos, que Isaías sentiu o chamamento de Deus e iniciou a sua missão profética. Essa missão prolongou-se durante os reinados de Jotam, Acaz e Ezequias, reis de Judá.

A época em que Isaías exerceu o seu ministério profético é uma época agitada, do ponto de vista político, marcada pelo expansionismo do império assírio. No ano 745 a.C., Tiglat-Pileser III sobe ao trono assírio e envia os seus exércitos para submeter os povos da zona. Os pequenos reinos da região, assustados com a política militar agressiva dos assírios, procuraram resistir constituindo coligações defensivas anti-assírias. Judá, apesar dos esforços de Acaz, não conseguiu evitar se envolver nesses jogos de política internacional, acabando por cair na zona de influência dos assírios. Isaías nunca aprovou a participação de Judá nesses jogos da política internacional. Para o profeta, Judá devia abster-se das alianças políticas com potências estrangeiras, sempre perigosas e geradoras de instabilidade. A única política aceitável, para o povo da Aliança, era colocar a sua segurança e esperança nas mãos de Deus.

Mais tarde, já no reinado de Ezequias, Judá procurou libertar-se da influência assíria entrando numa coligação anti-assíria com o Egito, a Fenícia e a Babilônia. Isaías, uma vez mais, condenou essa iniciativa. Para o profeta, colocar a segurança e a esperança da nação no poder de exércitos estrangeiros não poderia conduzir senão à ruína de Judá. De fato, as previsões funestas de Isaías realizaram-se quando Senaquerib invadiu Judá, cercou Jerusalém e obrigou Ezequias a submeter-se ao poderio assírio (701 a.C.).

Os últimos oráculos de Isaías são de 701 ou, talvez, de 689 a. C. Isaías deve ter morrido poucos anos depois, embora não saibamos ao certo quando. Um apócrifo judeu do séc. I d. C. – “Ascensão de Isaías” – afirma que foi assassinado pelo rei ímpio Manassés.

A primeira leitura que a liturgia deste domingo nos propõe e nos apresenta um poema cujo enquadramento histórico não é fácil de definir. Para alguns autores, contudo, este poema (e outros semelhantes) surge na fase final da atividade profética de Isaías, talvez nos últimos anos do reinado de Ezequias. Por essa altura, desiludido com o aventureirismo político dos reis de Judá, o profeta teria começado a sonhar com um tempo novo, sem armas e sem guerras, de justiça e de paz sem fim. Tal “reino” só poderia surgir da iniciativa de Javé (os reis humanos de há muito que se haviam revelado incapazes de conduzir o Povo em direção a um futuro de paz); e o instrumento de Javé na implementação desse “reino” seria, na opinião do profeta, um descendente de David. Este texto será, talvez, dessa época em que a profecia e o sonho de um mundo melhor se combinam.

2ª Leitura:  Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 15: 4-9)

Não sabemos em pormenor como surgiu a comunidade cristã de Roma. Pensa-se que o cristianismo terá chegado à capital do império levado por judeus palestinos convertidos a Jesus. Por essa altura, havia em Roma uma importante colônia judaica, constituída por cerca de 50.000 pessoas.

Paulo, na altura em que decidiu escrever aos cristãos de Roma, não tinha ainda tido contatos diretos com a comunidade. O seu esforço missionário tinha sido, até então, direcionado para o Mediterrâneo oriental, especialmente para as regiões da Ásia Menor e da Grécia.

Contudo, talvez no inverno de 55-56, prestes a concluir a sua terceira viagem missionária, Paulo começou a pensar em novos horizontes de missão. Preparava-se, então, para retornar à Palestina, a fim de entregar pessoalmente aos cristãos de Jerusalém os donativos recolhidos em favor deles nas igrejas do oriente. As igrejas que ele tinha fundado e acompanhado na Grécia e na Ásia Menor estavam organizadas e pareciam preparadas para caminhar sozinhas. Paulo sentia-se livre para partir para onde o anúncio do Evangelho o levasse. Planejava dirigir-se para ocidente e, talvez, ir até à Espanha para aí proclamar o Evangelho. A visita a Roma seria um antigo sonho de Paulo.

É neste enquadramento que Paulo resolve dirigir-se por carta aos cristãos de Roma. Apresenta-se (“Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado a ser apóstolo, escolhido para anunciar o Evangelho de Deus”) e propõe-lhes uma reflexão sobre os principais problemas que o preocupam, entre os quais sobressai a questão da unidade (um problema que a comunidade cristã de Roma, afetada por dificuldades de relacionamento entre judeo-cristãos e pagano-cristãos, conhecia bem). Com serenidade e lucidez, evitando qualquer polêmica, lhes expõe as linhas mestras do Evangelho que anuncia. A Carta aos Romanos é uma espécie de resumo da teologia paulina.

A Carta tem duas partes, uma mais de caráter doutrinal e a outra de caráter mais prático. Na primeira parte da Carta, Paulo vai fazer notar aos cristãos divididos que o Evangelho é a força que congrega e que salva todo o crente, sem distinção de judeu, grego ou romano. Embora o pecado seja uma realidade universal, que afeta todos os homens, a “justiça de Deus” dá vida a todos, sem distinção; e é em Jesus Cristo que essa vida se comunica e que transforma o homem. Batizado em Cristo, o cristão morre para o pecado e nasce para uma vida nova. Passa a ser conduzido pelo Espírito e torna-se filho de Deus; libertado do pecado e da morte, produz frutos de santificação e caminha para a Vida eterna. Na segunda parte da carta Paulo, de uma forma bastante prática, exorta os cristãos a viverem de acordo com o Evangelho de Jesus.

O texto que hoje nos é proposto pertence à segunda parte da carta. Depois de exortar os cristãos que pertencem à comunidade de Roma ao amor mútuo, Paulo deixa-lhes uma recomendação sobre a forma de esperar o Senhor que vem.

Evangelho: segundo Mateus  (Mt 3: 1-12)

Depois do “Evangelho da Infância de Jesus” (Mt 1-2), Mateus apresenta aos seus leitores a figura de João, o “Batista”.

Foi no final do ano 27 ou no princípio do ano 28 que João, um profeta original e independente, começou a pregar nas margens do rio Jordão, nas franjas do deserto de Judá. O local onde João se instalou seria, provavelmente, o atual Qasr El Yahud, um lugarejo situado perto de Jericó, a cerca de dez quilômetros do Mar Morto. Era um local de passagem para os peregrinos que vinham da Galileia para Jerusalém. A pregação de João atraiu multidões e provocou um certo alvoroço no cenário religioso palestino.

A mensagem que João propunha estava centrada na urgência da conversão pois, segundo João, o “juízo de Deus” estava iminente; e incluía um ritual de purificação pela água (“batismo”), a confissão dos pecados e uma mudança de vida. É possível que João estivesse, de alguma forma, relacionado com a comunidade essênia, uma “seita” judaica dissidente instalada ali ao lado, na localidade de Qumran, nas margens do Mar Morto: o tema do juízo de Deus e os rituais de purificação pela água faziam parte do cenário de vida em que os essênios se moviam.

Segundo a mais antiga tradição cristã, Jesus manteve contatos, antes de iniciar a sua vida pública, com o movimento de João; e alguns discípulos de João tornaram-se, a partir de certa altura, discípulos de Jesus.

Os primeiros cristãos identificaram João, o Batista, com o mensageiro de Deus referido em Is 40: 3, apresentado como “uma voz que clama no deserto” e que convida o povo a preparar “o caminho do Senhor”. Também o ligaram com o profeta Elias, aquele que, segundo a tradição judaica, viria anunciar a Israel a chegada do Messias. Para a catequese cristã João seria, portanto, o precursor de Jesus.