Compreender os textos Bíblicos não é tarefa fácil, e se torna praticamente impossível se não levarmos em conta os aspectos histórico-culturais e os costumes da época em que cada leitura se passa. Há muitas mensagens escritas que se apóiam nestes aspectos, além de leis específicas, metáforas temporais, problemas de tradução e até mesmo estilos usados pelos autores de cada livro, e quais elementos (ou mesmo objetivos) queriam enfatizar em seus textos.

CONDIÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E COSTUMES DA ÉPOCA DAS PASSAGENS BÍBLICAS

LEITURAS DA SEMANA

"PRÓXIMA REUNIÃO: 18/Setembro 8:00pm"

Antes de cada reunião semanal, colocaremos nesta página informações úteis, sobre cada leitura, para nos ajudar nesta "viagem no tempo" e, assim, com o auxílio do Espírito Santo de Deus, entendermos as mensagens com este pano de fundo histórico e, finalmente, podermos transportá-las aos nossos dias e às nossas circunstâncias de hoje.

Ref. Domingo 21/Setembro/2025

25º Domingo do Tempo Comum - Ano C

1ª Leitura:  Leitura da Profecia de Amós (Am 8: 4-7 )

Amós, o “profeta da justiça social”, exerceu o seu ministério profético no reino do Norte (Israel) em meados do séc. VIII a.C. (talvez por volta de 760 a. C.), durante o reinado de Jeroboão II. É uma época de prosperidade econômica e de estabilidade política: as conquistas de Jeroboão II alargaram consideravelmente os limites do reino e permitiram a entrada de tributos dos povos vencidos; o comércio e a indústria (mineira e têxtil) desenvolveram-se significativamente. As habitações da burguesia urbana atingiram um luxo e magnificência até então desconhecidos.

A prosperidade e o bem-estar das classes favorecidas contrastavam, porém, com a miséria de uma parte significativa da população do país. O sistema de distribuição estava nas mãos de comerciantes sem escrúpulos que, aproveitando o bem-estar econômico, especulavam com os preços. Com o aumento dos preços dos bens essenciais, as famílias de menores recursos se endividavam e acabavam por se ver espoliadas das suas terras em favor dos grandes latifundiários. A classe dirigente, rica e poderosa, dominava os tribunais e subornava os juízes, impedindo que o tribunal fizesse justiça aos mais pobres e defendesse os direitos dos menos poderosos.Entretanto, a religião florescia num esplendor ritual nunca visto. Magníficas festas, abundantes sacrifícios de animais, um culto esplendoroso, marcavam a vida religiosa dos israelitas… O problema é que esse culto não tinha nada a ver com a vida: no dia a dia, os mesmos que participavam nesses ritos cultuais majestosos praticavam injustiças contra o pobre e cometiam toda a espécie de atropelos ao direito. Mais ainda: os ricos ofereciam a Deus abundantes ofertas, a fim de serenar as suas consciências culpadas e assegurar a cumplicidade de Deus para os seus negócios escuros… Além disso, a influência da religião cananeia estava a levar os israelitas para o sincretismo religioso: o culto a Javé se misturava com rituais pagãos provenientes dos cultos a Baal e Astarte. Essa confusão religiosa punha em sérios riscos a pureza da fé javista.

É neste contexto que aparece o profeta Amós. Natural de Técua (uma pequena aldeia situada no deserto de Judá), Amós não é profeta de profissão; mas, chamado por Deus, deixa a sua terra, o seu trabalho e a sua família e parte para o reino vizinho (Israel) para gritar à classe dirigente a sua denúncia profética. A rudeza do seu discurso, aliada à integridade e afoiteza da sua fé, traz algo do ambiente duro do deserto e contrasta com a indolência e o luxo da sociedade israelita da época.

O oráculo que a liturgia nos propõe como primeira leitura neste vigésimo quinto domingo comum denuncia veementemente o comércio injusto.

2ª Leitura:  Primeira Carta de São Paulo a Timóteo (1Tm 2: 1-8)

Paulo encontrou pela primeira vez Timóteo em Listra, cidade da Licaônia, no decurso da sua segunda viagem missionária. O pai de Timóteo era grego e a mãe, de nome Eunice, era judeo-cristã. A avó de Timóteo, chamada Loide, também teve influência na sua educação cristã. Timóteo, depois de ser circuncidado “por causa dos judeus existentes naquela região”, acompanhou Paulo, aparecendo junto dele na Bereia, em Atenas, Corinto e Éfeso. Paulo se referirá a Timóteo como “nosso irmão e colaborador de Deus no Evangelho de Cristo” e lhe confiou algumas missões delicadas junto de comunidades cristãs que se defrontavam com alguns problemas. Tudo isto sugere uma grande proximidade entre Paulo e Timóteo. A tradição cristã apresenta Timóteo como o primeiro bispo de Éfeso.

A maior parte dos estudiosos duvida que a primeira Carta a Timóteo tenha sido escrita por Paulo. A linguagem e a teologia parecem significativamente distantes de outras cartas reconhecidamente paulinas. Além disso, a carta se refere a um modelo de organização eclesial que parece claramente posterior à época de Paulo (Paulo teria sido martirizado em Roma por volta do ano 66/67, durante a perseguição de Nero). A grande preocupação que transparece na primeira Carta a Timóteo já não é a difusão do Evangelho, mas sim a organização e a conservação do “depósito da fé”. A temática tratada incide fundamentalmente sobre a organização da comunidade, a necessidade de combater as heresias nascentes, o incremento da vida cristã dos fiéis.

No texto que a liturgia deste domingo nos propõe como segunda leitura, o autor da Carta deixa a Timóteo indicações sobre a oração litúrgica.

Evangelho: segundo Lucas (Lc 16: 1-13)

Enquanto caminha com os discípulos em direção a Jerusalém, Jesus os prepara para serem testemunhas do Reino de Deus. Sob a orientação de Jesus, os discípulos vão progressivamente se despindo das suas lógicas egoístas, dos seus valores fúteis, dos seus sonhos de grandeza; à medida que caminham com Jesus, eles vão aprendendo a abraçar a lógica e os valores do Reino de Deus.

Uma vez mais, Lucas não indica em que momento do “caminho para Jerusalém” aconteceu esta “conversa”. Mais do que situar geograficamente os acontecimentos, Lucas está interessado em “nos sentar” aos pés de Jesus a escutar a sua “instrução”, a receber o seu ensinamento. Desta vez, a “instrução” de Jesus – que se destina aos discípulos de todas as épocas – incide sobre a maneira de lidar com os bens materiais.

O nosso texto consta de duas partes. Na primeira, temos uma parábola sobre um administrador sagaz, que administra de forma peculiar os bens de um homem rico; na segunda, temos um conjunto de “ditos” de Jesus sobre os bens materiais. O mais provável é que esses “ditos” tenham aparecido em contextos diversos, não vinculados com a parábola em questão; contudo, Lucas achou que eles poderiam ser um bom comentário à temática abordada na parábola e os colocou nesse enquadramento. Quer a parábola, quer os “ditos” sobre a riqueza são exclusivos de Lucas.