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Compreender os textos Bíblicos não é tarefa fácil, e se torna praticamente impossível se não levarmos em conta os aspectos histórico-culturais e os costumes da época em que cada leitura se passa. Há muitas mensagens escritas que se apóiam nestes aspectos, além de leis específicas, metáforas temporais, problemas de tradução e até mesmo estilos usados pelos autores de cada livro, e quais elementos (ou mesmo objetivos) queriam enfatizar em seus textos.

CONDIÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E COSTUMES DA ÉPOCA DAS PASSAGENS BÍBLICAS

LEITURAS DA SEMANA

"PRÓXIMA REUNIÃO: 19 de Dezembro de 2024"

Antes de cada reunião semanal, colocaremos nesta página informações úteis, sobre cada leitura, para nos ajudar nesta "viagem no tempo" e, assim, com o auxílio do Espírito Santo de Deus, entendermos as mensagens com este pano de fundo histórico e, finalmente, podermos transportá-las aos nossos dias e às nossas circunstâncias de hoje.

1ª Leitura:  Livro da Profecia de Miquéias (Mq 5: 1-4a)

2ª Leitura: Carta aos Hebreus (Hb 10: 5-10)

Evangelho: segundo Lucas (Lc 1: 39-45)

Ref. Domingo 22/Dezembro/2024

4° Domingo do Advento - Ano C

O texto de Lucas que nos é proposto neste quarto domingo do advento pertence ao chamado “Evangelho da Infância”. Ora, os “Evangelhos da Infância de Jesus” (quer o de Mateus, quer o de Lucas) se enquadram num gênero literário próprio, que recorre às técnicas do midrash haggádico (uma técnica de leitura e de interpretação do texto sagrado usada pelos rabis judeus) para nos apresentar o mistério de Jesus.

A preocupação dos evangelistas que nos legaram os “Evangelhos da Infância” não é apresentar um relato factual dos acontecimentos dos primeiros anos de Jesus, mas sim oferecer às suas comunidades uma catequese que proclame determinadas realidades salvíficas (que Jesus é o Messias, que Ele vem de Deus, que Ele é o “Deus conosco”). Com recurso a tipologias (correspondência entre certos fatos e pessoas do Antigo Testamento e outros fatos e pessoas do Novo Testamento), a manifestações apocalípticas (anjos, aparições, sonhos) e a outros recursos literários, Mateus e Lucas tecem as suas catequeses sobre Jesus, o Filho de Deus que veio ao encontro dos homens. O Evangelho que nos é hoje proposto deve ser entendido sob esta luz e neste enquadramento.

Antes da cena que nos descreve no Evangelho deste domingo, Lucas nos tinha contado a visita do anjo Gabriel a Maria e o anúncio de que ela seria a mãe de Jesus, o “Filho do Altíssimo”. O anjo tinha também dito a Maria que a sua parente Isabel estava no sexto mês de gravidez e ia dar à luz uma criança. Na sequência, Lucas põe Maria deixando Nazaré e a se dirigir “apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá”. O seu objetivo é ir ao encontro de Isabel. A tradição cristã identifica essa “cidade de Judá” com a atual Ain Karim, a seis quilômetros a oeste de Jerusalém.

Miqueias nasceu em Moreset Gat, uma aldeia de Judá, a cerca de 35 quilômetros a sudoeste de Jerusalém. Moreset Gat se situa num ambiente rural, onde abundavam os pequenos agricultores vítimas dos abusos dos grandes latifundiários. Por outro lado, a existência, nessa zona, de diversas fortalezas militares (Azeqa, Soco, Adulán, Maresa, Laquis) trazia aos habitantes da região um problema adicional: os militares e funcionários reais que por lá se aquartelavam cometiam todo o gênero de arbitrariedades contra os camponeses pobres.

Impostos excessivos, roubos à mão armada, obrigatoriedade de trabalhos forçados, prepotências e injustiças de todo o tipo amarguravam o dia a dia do povo simples da região.

De acordo com o livro, o ministério profético de Miqueias prolongou-se pelos reinados de Jotam (739-734 a.C.), Acaz (734-727 a.C.) e Ezequias (727-698 a.C.). Para Judá, foi uma fase histórica difícil, marcada pela hegemonia da Assíria na região. Em 722 a.C., o rei assírio Salamanasar V conquistou a Samaria e, paralelamente, converteu Judá em vassalo da Assíria. Ezequias, rei de Judá, teve de se submeter ao poderio assírio. Depois de alguns anos de relativa calma, aproveitando a morte do rei Sargão II (705 a.C.), Ezequias aderiu a uma coligação antiassíria; mas Senaquerib, sucessor de Sargão II, invadiu Judá, conquistou diversas cidades e cercou Jerusalém. Para evitar males maiores, Ezequias submeteu-se e comprometeu-se a pagar aos assírios um pesado tributo. Foi esse o cenário histórico que marcou os últimos anos do reinado de Ezequias.

Miqueias conhecia bem a situação dos camponeses de Judá. A sua mensagem denuncia as injustiças praticadas pelos grandes latifundiários, a venalidade dos juízes, as violências praticadas pelos militares e pela classe dirigente contra o povo simples, as mensagens mentirosas dos falsos profetas, a religião cúmplice dos injustos e prepotentes, a infidelidade a Deus manifestada no culto aos deuses estrangeiros… Miqueias considera que Deus está farto de tanto pecado e que se prepara para castigar Judá. Esta denúncia aparece sobretudo nos capítulos 1 a 3 do livro de Miqueias.

No entanto, o profeta deixa a porta aberta à esperança. Nos capítulos 4 e 5 do livro de Miqueias aparecem diversos oráculos de salvação que falam de um tempo novo que Deus prepara para o seu Povo: um resto de Judá será o viveiro de reflorescimento da nação; Jerusalém será um centro para onde acorrerão povos de toda a terra, a fim de se encontrarem com Deus; aparecerá um rei, da descendência de David, que apascentará Judá e inaugurará um tempo novo de tranquilidade, de paz e de abundância de vida. Alguns biblistas pensam que estes capítulos não foram redigidos por Miqueias, mas sim por um profeta anônimo, na época do Exílio na Babilônia.

O texto que a liturgia deste quarto domingo do advento nos propõe como primeira leitura pertence a este conjunto de “oráculos de salvação”.

Não sabemos quem foi o autor do escrito a que se deu o nome de “Carta aos Hebreus”. A tradição oriental a atribui a São Paulo; mas no ocidente há muito que este texto é considerado não paulino. Surgido na segunda metade da década de sessenta do primeiro século (antes da destruição de Jerusalém, no ano 70, pois fala da liturgia do Templo como uma realidade atual), poderá ser obra de um discípulo de Paulo, empenhado em estimular a vivência do compromisso cristão e levar os crentes a crescer na fé.

Embora a tradição tenha considerado como destinatários deste escrito os “hebreus”, isso não significa, efetivamente, que o seu autor o destinasse exclusivamente a cristãos oriundos do mundo judaico. É verdade que nele se referem continuamente fatos e figuras do Antigo Testamento; mas, por essa altura, o Antigo Testamento era já patrimônio comum de todos os cristãos, mesmo dos que provinham do mundo greco-romano. Tratava-se, em qualquer caso, de comunidades cristãs em situação difícil, expostas a perseguições e que viviam num ambiente hostil à fé… Os membros dessas comunidades tinham já perdido o fervor inicial pelo Evangelho e começavam a ceder à sedução de certas doutrinas não muito coerentes com a fé recebida dos apóstolos…

A Carta aos Hebreus apresenta – recorrendo à linguagem da teologia judaica – o mistério de Cristo, o sacerdote por excelência – através de quem os homens têm acesso a Deus e são inseridos na comunhão real e definitiva com Deus. O autor aproveita, na sequência, para refletir nas implicações desse fato: postos em relação com o Pai por Cristo/sacerdote, os crentes são inseridos nesse Povo sacerdotal que é a comunidade cristã e devem fazer da sua vida um contínuo sacrifício de louvor, de entrega e de amor. Desta forma, o autor oferece aos cristãos um aprofundamento e uma ampliação da fé primitiva, capaz de revitalizar a sua experiência de fé, enfraquecida pela acomodação e pela perseguição.

O texto que nos é proposto como segunda leitura neste quarto domingo do advento pertence à terceira parte da carta. Aí, o autor da Carta apresenta Cristo como o sumo-sacerdote. Mas, enquanto sumo-sacerdote que faz a mediação entre Deus e os homens, Cristo é bem superior aos sacerdotes véterotestamentários. Ele, o sumo-sacerdote da nova Aliança, inaugura um novo culto, oferecendo-se a si mesmo ao Pai, num sacrifício perfeito e eficaz. O seu sacrifício obtém a salvação eterna para todos os homens.