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Compreender os textos Bíblicos não é tarefa fácil, e se torna praticamente impossível se não levarmos em conta os aspectos histórico-culturais e os costumes da época em que cada leitura se passa. Há muitas mensagens escritas que se apóiam nestes aspectos, além de leis específicas, metáforas temporais, problemas de tradução e até mesmo estilos usados pelos autores de cada livro, e quais elementos (ou mesmo objetivos) queriam enfatizar em seus textos.

CONDIÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E COSTUMES DA ÉPOCA DAS PASSAGENS BÍBLICAS

LEITURAS DA SEMANA

"PRÓXIMA REUNIÃO: 18 de Abril de 2024"

Antes de cada reunião semanal, colocaremos nesta página informações úteis, sobre cada leitura, para nos ajudar nesta "viagem no tempo" e, assim, com o auxílio do Espírito Santo de Deus, entendermos as mensagens com este pano de fundo histórico e, finalmente, podermos transportá-las aos nossos dias e às nossas circunstâncias de hoje.

1ª Leitura:  Livro do Ato dos Apóstolos
(At 4: 8-12)

2ª Leitura: Primeira Carta de São João (1 Jo 3: 1-2)

Evangelho: segundo João (Jo 10: 11-18)

Ref. Domingo 21/04/2024 - 4° Domingo de Páscoa - Ano B

O testemunho sobre Jesus e sobre a libertação que Ele veio oferecer aos homens, manifestado nos gestos (cura de um paralítico junto da Porta Formosa, à entrada do Templo de Jerusalém) e nas palavras de Pedro (discurso à multidão, no Pórtico de Salomão), provoca a imediata reação das autoridades judaicas e a consequente prisão de Pedro e de João. É a reação lógica dos líderes judaicos, ainda convencidos de que podiam silenciar a proposta libertadora de Jesus.

A primeira Carta de João é, como já dissemos nos domingos anteriores, um escrito polêmico, dirigido a comunidades cristãs nascidas no mundo joânico, provavelmente situadas à volta de Éfeso, na parte ocidental da Ásia Menor. Numa altura em que as heresias pré-gnósticas começavam a lançar a confusão entre os crentes e ameaçavam subverter a identidade cristã, um “presbítero” (“ancião”) ligado à escola joânica (constituída à volta da figura e da teologia do apóstolo João), decidiu escrever às comunidades cristãs da sua zona, denunciando as doutrinas heréticas e reavivando a fé da Igreja.

As principais questões postas pelos hereges eram de ordem cristológica e ética. Em termos de doutrina cristológica, negavam que o Filho de Deus tivesse encarnado através de Maria e que tivesse morrido na cruz: Jesus era um simples homem, de quem o Cristo celeste se tinha apropriado, na altura do Batismo, para levar a cabo a revelação; mas, imediatamente antes da paixão, o Cristo celeste tinha-se retirado (porque não podia padecer), deixando o homem Jesus enfrentar sozinho a Paixão e a morte. Do ponto de vista ético e moral, esses hereges não cumpriam os mandamentos e desprezavam especialmente o mandamento do amor ao irmão. O texto que nos é proposto como segunda leitura neste quarto domingo da Páscoa integra a segunda parte da carta. Aí, o autor lembra aos crentes a sua condição de filhos de Deus e os exorta a viver no dia a dia de forma coerente com essa filiação.

O capítulo 10 do 4º Evangelho é dedicado à catequese do “Bom Pastor”. O autor utiliza esta imagem para propor uma catequese sobre a missão de Jesus: a obra do “Messias” consiste em conduzir o homem às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas de onde brota a Vida em plenitude. A imagem do “Bom Pastor” não foi inventada pelo autor do 4º Evangelho. Literariamente falando, este discurso simbólico está construído com materiais provenientes do Antigo Testamento.

Em especial, este discurso tem presente o texto de Ez 34, onde se encontra a chave para compreender a metáfora do “pastor” e do “rebanho”. Falando aos exilados da Babilônia, Ezequiel constata que os líderes de Israel foram, ao longo da história, maus “pastores”, que conduziram o Povo por caminhos de sofrimento, de injustiça e de morte; mas – diz também Ezequiel – o próprio Deus vai agora assumir a condução do seu Povo; Ele irá colocar à frente do seu “rebanho” um “Bom Pastor” (o “Messias”), que o livrará da escravidão e o conduzirá à Vida. A catequese que o 4º Evangelho nos oferece sobre o “Bom Pastor” sugere que a promessa de Deus – veiculada por Ezequiel – se cumpre em Jesus.

De acordo com o Evangelho de João, Jesus teria pronunciado o “discurso do Bom Pastor” em Jerusalém, em contexto da “festa da Dedicação do Templo”. Esta festa (chamada, em hebraico, “Hanûkkah”) celebra a purificação do Templo de Jerusalém (164 a.C.), por Judas Macabeu, depois de o rei selêucida Antíoco IV Epifânio o ter profanado (167 a.C.), construindo um altar em honra de Zeus dentro do espaço sagrado. É a festa da Luz. O símbolo por excelência dessa festa é um candelabro de oito braços (“hanûkkiyyah”), que vão sendo progressivamente acesos durante os oito dias que a festa dura. Jesus tinha, pouco antes, curado um cego de nascença, assumindo-se como “a Luz” que veio para iluminar as trevas do mundo.

Apesar do ambiente festivo, a relação entre Jesus e os líderes judaicos é de grande tensão. Depois de ver a pressão que esses líderes colocaram sobre um cego de nascença para que ele não abraçasse a luz, Jesus denuncia a forma como eles tratam a comunidade: estão apenas interessados em proteger os seus interesses pessoais e usam o Povo em benefício próprio; são, pois, “ladrões e salteadores”, que tomaram de assalto o rebanho que lhes foi confiado e roubam ao Povo a oportunidade de encontrar Vida.

No dia seguinte, Pedro e João são conduzidos diante do Sinédrio – a autoridade que liderava a organização da vida religiosa, jurídica e econômica dos judeus. Presidido pelo sumo-sacerdote em funções, o Sinédrio era constituído por 70 membros, oriundos das principais famílias do país. Na época de Jesus, o Sinédrio era, ao que parece, dominado pelo grupo dos saduceus, os quais negavam a ressurreição. No Sinédrio havia, também, um grupo significativo de fariseus, os quais aceitavam a ressurreiçã. No entanto, os dois grupos vão pôr de lado as suas divergências particulares para fazerem causa comum contra os discípulos de Jesus. Referem-se, neste contexto, duas figuras sacerdotais: Caifás e Anás. Josefo ben Caifás era o sumo-sacerdote em exercício à data dos fatos narrados neste episódio (exerceu o sumo-sacerdócio entre os anos 18 e 36); Anás ben Sete tinha exercido o sumo-sacerdócio algum tempo antes (anos 6 a 15), era sogro de Caifás, e continuava a ser uma figura muito influente nos círculos sacerdotais de Jerusalém. Um e outro tinham estado na primeira linha no processo de condenação de Jesus à morte. A pergunta posta aos apóstolos pelos membros do Sinédrio é: “com que poder ou em nome de quem fizestes isto?”. O texto que a nossa primeira leitura nos apresenta é a resposta de Pedro à questão que lhe foi posta.

É mais do que provável que o episódio assente, em geral, em bases históricas… O testemunho sobre esse Messias crucificado pouco antes pelas autoridades constituídas devia aparecer como uma provocação e provocar uma natural reação dos líderes judaicos. No entanto, o episódio, tal como nos é apresentado, sofreu retoques de Lucas, empenhado em demonstrar que a reação negativa do “mundo” não pode nem deve calar o testemunho dos discípulos de Jesus.